PAISAGEM URBANA
São cinco horas da manhã e a garoa fina cai branca como leite, fria como gelo. Milhões de gotinhas d’água brilham em trilhos de ferro.
“Bom dia”, diz Um Homem para o Outro Homem. “Bom dia, por quê?”, pensa o Outro, olhando para o Um. Um Homem quieto e parado é um poste, que espera o trem na estação quase vazia. [...]
A máquina aparece na curva e vem lenta, grave, forte, grande, imensa. Para a máquina, desce um branco, uma mulata, o gordo e o magro, dois meninos maluquinhos. Chegada de uns, partida de outros. No meio de um cheiro áspero de fumaça e óleo diesel, o Outro Homem entra no trem.
Um homem continua um poste. Rígido. Concreto. E é só quando uma moça desce a escada do vagão carregando uma mala, cabelo preso com fita e olhar de busca, que o homem-poste tem um sobressalto. Os olhares se encontram. O trem vai e os olhares vêm. O mundo é assim... Outro Homem se foi. Um Homem está feliz.
FERNANDES, Maria ; HAILER, Marco Antônio. Alp novo: Análise, Linguagem e Pensamento. V. 4. São Paulo: FTD, 2000. p. 152. * Adaptado: Reforma Ortográfica.
Ao usar a expressão “homem-poste”, o autor sugere que o homem está