O menino sem imaginação
[...]
Maria botou o jantar e pela primeira vez, desde que nasci, vi toda a família reunida à volta da mesa.
– Como nos velhos tempos! – exclamou o vovô satisfeito.
Ele disse que no passado era assim: as pessoas sentavam juntas, conversavam e trocavam ideias na hora das refeições. Disse que foi a chegada da televisão que provocou uma debandada geral.
Eu fiquei calado, mas me irrita muito ver alguém falando mal da televisão. Para mim, ela apenas permitiu que cada um comesse quando quisesse, porque as pessoas não são obrigadas a sentir fome à mesma hora.
– Vamos conversar sobre o quê? – perguntou o vovô; que não obtendo resposta, continuou:
– Não podemos perder esta oportunidade. Ela talvez não se repita nunca mais.
– Qualquer coisa – resmungou mamãe desinteressada.
– Qualquer coisa – resmungou mamãe desinteressada.
– Eu queria fazer um comentário sobre o jogo…
– Ah! Futebol não! – mamãe cortou a frase de papai.
– Existe algum tema mais relevante do que o sumiço da televisão? – indagou titia.
– Ah! Eu não aguento falar mais sobre isso! – disse papai.
– Nem eu! – concordou a mana.
E mergulhamos todos num longo silêncio.
Eu havia colocado Fantástica sobre o aparador, na minha frente, mantendo seu controle remoto
ao lado do meu prato, como um talher.
Não acreditava que a TV fosse demorar muito mais fora do ar, porque papai falou que os donos das emissoras são poderosos “e logo vão dar um jeito nisso”. NOVAES, Carlos Eduardo. O menino sem imaginação. ed. 6. São Paulo: Ática, 1997.
No fragmento do romance “O menino sem imaginação” de Carlos Eduardo Novaes, a família estava reunida para jantar. Qual foi a única personagem que demonstrou estar SATISFEITA com essa situação?