Revisão para a Prova Paraná - Filosofia - 1° A Cristo Rei

Immanuel Kant, ao elaborar sua filosofia moral, distingue dois tipos de imperativos: o hipotético e o categórico. O imperativo hipotético está relacionado a ações que são realizadas em vista de um fim particular, condicionado por desejos, inclinações ou interesses individuais. Já o imperativo categórico tem caráter universal e incondicionado, sendo válido independentemente de circunstâncias particulares, pois se fundamenta na razão prática pura. Nesse sentido, se um estudante decide estudar apenas para obter uma boa nota em uma prova, sua ação se orienta por um imperativo hipotético. Contudo, se decide estudar porque entende que o cultivo do conhecimento é um dever moral em si mesmo, sua ação obedece ao imperativo categórico.

Diante dessa distinção, analise as alternativas e assinale aquela que melhor exemplifica a aplicação do imperativo categórico.

• Um jovem ajuda um colega de sala a entender a matéria, pois sabe que, futuramente, poderá precisar de ajuda em outro conteúdo.

• Uma pessoa doa alimentos a famílias carentes porque deseja ser vista pela comunidade como solidária e bondosa.

• Uma funcionária segue as regras da empresa para manter seu emprego e evitar uma possível demissão.

• Um cidadão cumpre a lei, não por medo da punição, mas por reconhecer que respeitar normas justas é um dever de todo ser racional.

• Um estudante dedica-se intensamente ao curso de idiomas para garantir melhores oportunidades profissionais no futuro.

A ética kantiana é fundamentada na autonomia da razão e na possibilidade de o ser humano agir a partir de princípios universais, independentemente de suas inclinações empíricas. Nesse contexto, os imperativos categóricos representam mandamentos da razão que obrigam a agir sem depender de condições externas, enquanto os imperativos hipotéticos estabelecem condutas condicionadas a determinados fins. A dificuldade em distinguir os dois, no entanto, está no fato de que muitas ações humanas parecem moralmente corretas, mas, na realidade, são motivadas por interesses particulares.

Considerando a teoria kantiana, qual das situações abaixo exemplifica com maior precisão uma ação orientada pelo imperativo hipotético?

• Uma pessoa decide falar sempre a verdade, pois entende que a mentira, se universalizada, destruiria a confiança entre os seres humanos.

• Um aluno estuda filosofia porque reconhece que a busca pelo conhecimento é uma obrigação moral que transcende suas vontades pessoais.

• Um trabalhador dedica-se com empenho em suas funções, pois espera receber uma promoção em sua carreira profissional.

• Um juiz toma suas decisões de acordo com as leis justas, guiado pela convicção de que agir conforme o dever é um valor incondicional.

• Uma cidadã participa ativamente da vida política porque entende que o engajamento social é um dever de todo ser humano livre.

Na filosofia moral kantiana, a validade de uma ação não está no resultado que dela advém, mas na intenção que a motiva. Assim, o valor moral das ações reside no fato de serem praticadas por dever e não meramente por conveniência ou interesse. O imperativo categórico, por sua universalidade, exige que o agente aja de tal modo que a máxima de sua ação possa ser erigida como lei universal. O imperativo hipotético, ao contrário, vincula-se a meios para alcançar determinados fins.

Com base nisso, assinale a alternativa que expressa uma ação sem valor moral, na perspectiva de Kant, por estar orientada exclusivamente por um imperativo hipotético.

• Um médico atende seus pacientes com zelo porque entende que cuidar da vida humana é um dever universal de sua profissão.

• Um advogado defende com empenho os direitos de seu cliente, pois considera que respeitar a justiça é uma obrigação moral em qualquer circunstância.

• Um comerciante trata seus clientes com honestidade para conquistar uma boa reputação e ampliar suas vendas.

• Um pesquisador compartilha seus resultados porque acredita que a ciência deve beneficiar toda a humanidade, independentemente de interesses pessoais.

• Uma professora prepara suas aulas cuidadosamente, pois considera que educar é um dever ético que independe do reconhecimento dos alunos.

A filosofia africana tem como uma de suas marcas a centralidade da ancestralidade e da comunidade na constituição do ser humano. O conceito de Ubuntu, originário das línguas bantas, expressa a ideia de que a pessoa só se realiza plenamente na relação com os outros: “eu sou porque nós somos”. Já o conceito de Sankofa, de origem Akan (Gana), representa o princípio de retornar ao passado para resgatar saberes, valores e tradições que orientam o presente e o futuro. Ambos os conceitos revelam uma compreensão de humanidade que se contrapõe ao individualismo predominante em tradições ocidentais modernas.

Nesse sentido, qual alternativa expressa corretamente a visão de mundo do Ubuntu?

• O ser humano só pode afirmar sua identidade por meio da relação com os ancestrais, sendo a comunidade apenas um espaço secundário de pertencimento.

• A dignidade humana é garantida prioritariamente pelo reconhecimento do Estado, que define os direitos universais de cada cidadão.

• O indivíduo realiza-se plenamente apenas na convivência com os outros, pois sua humanidade está intrinsecamente ligada à comunidade.

• A realização do ser humano ocorre quando este retorna ao passado, recuperando tradições e costumes que estruturam sua identidade presente.

• A liberdade individual é a base da vida em sociedade, sendo a cooperação comunitária apenas uma consequência das escolhas pessoais.

O símbolo de um pássaro olhando para trás com um ovo no bico representa o conceito africano de Sankofa. Tal noção indica que não há construção de futuro sem retorno crítico ao passado, especialmente em sociedades marcadas por rupturas históricas, como a escravidão e o colonialismo. O Sankofa é, portanto, um convite a valorizar a memória ancestral, reconhecendo que o passado contém elementos essenciais para a construção de uma identidade coletiva e de uma vida social justa.

Considerando essa perspectiva, qual das situações abaixo expressa mais adequadamente a ideia de Sankofa?

• Um jovem que busca nas tradições de sua família e comunidade inspiração para enfrentar os desafios contemporâneos.

• Um cientista que dedica sua vida à pesquisa de ponta, priorizando a inovação tecnológica em detrimento das tradições culturais.

• Um artista que valoriza apenas as tendências globais da arte contemporânea, descartando manifestações culturais locais.

• Um indivíduo que entende a liberdade como ruptura radical com o passado, sem necessidade de vínculos com heranças ancestrais.

• Uma sociedade que adota exclusivamente valores modernos, recusando qualquer influência de práticas culturais antigas.

O pensamento africano, em suas diferentes expressões, oferece importantes contribuições filosóficas para pensar a vida em comunidade e a importância da memória. O Ubuntu enfatiza a interdependência entre os seres humanos, em que a dignidade de cada pessoa se afirma na coletividade. Já o Sankofa destaca a relevância de retornar às raízes, à ancestralidade, como condição para a construção de um futuro mais justo. Essas noções se contrapõem à visão individualista que predomina em muitas sociedades ocidentais modernas.

Com base nesses conceitos, assinale a alternativa que apresenta um exemplo coerente tanto com o Ubuntu quanto com o Sankofa.

• Uma comunidade que fortalece laços de solidariedade e cooperação, mas considera desnecessário recuperar práticas culturais de seus antepassados.

• Um grupo social que valoriza apenas a autonomia individual, deixando de lado vínculos comunitários e tradições ancestrais.

• Um movimento cultural que promove a cooperação comunitária e, ao mesmo tempo, resgata saberes tradicionais como forma de projetar um futuro coletivo.

• Um projeto educativo que prioriza apenas a competitividade individual dos alunos, ignorando a dimensão da memória histórica.

• Uma iniciativa política que se fundamenta exclusivamente no progresso tecnológico, sem diálogo com a história e a ancestralidade de seu povo.

O pensamento decolonial emerge como uma crítica ao eurocentrismo, entendido como a centralidade do olhar europeu na produção de conhecimento, que desvaloriza as experiências, saberes e culturas de povos colonizados. Autores como Aníbal Quijano e Walter Mignolo destacam que a colonialidade do poder, do saber e do ser não terminou com a independência política das nações, mas persiste nas formas como o Ocidente define padrões de racionalidade, modernidade e progresso. Nesse sentido, o projeto decolonial busca valorizar epistemologias outras, reconhecendo as múltiplas formas de conhecimento silenciadas pela hegemonia eurocêntrica.

Qual das alternativas representa corretamente uma postura decolonial?

• Adotar exclusivamente os modelos científicos europeus como critério de validade universal, independentemente do contexto cultural.

• Reconhecer que apenas a tradição filosófica grega constitui o ponto de partida legítimo para o pensamento crítico contemporâneo.

• Valorizar os saberes indígenas e afrodescendentes como formas legítimas de conhecimento, rompendo com a hierarquia imposta pela lógica eurocêntrica.

• Priorizar a visão europeia de progresso e modernidade como referência universal para todas as sociedades.

• Reproduzir a ideia de que o Ocidente é o centro irradiador de racionalidade e que os demais povos apenas imitam seus modelos.

A crítica decolonial enfatiza que o eurocentrismo não é apenas uma perspectiva cultural, mas uma forma de dominação global que naturaliza desigualdades históricas. A colonialidade do saber, por exemplo, impõe que certos conhecimentos sejam considerados universais e científicos, enquanto outros são relegados à condição de folclore ou tradição local. Esse processo marginaliza vozes e experiências não europeias.

Nesse contexto, qual das situações a seguir ilustra de forma mais adequada o eurocentrismo criticado pelo pensamento decolonial?

• Um projeto escolar que insere na grade curricular a história africana e indígena em igualdade de importância com a história europeia.

• Um programa de pesquisa que valoriza apenas metodologias baseadas no modelo científico ocidental, desconsiderando formas locais de conhecimento.

• Uma comunidade que retoma práticas agrícolas tradicionais para garantir sua sustentabilidade alimentar.

• Uma universidade que promove o diálogo entre diferentes matrizes culturais, reconhecendo a diversidade epistêmica.

• Uma organização social que luta pelo reconhecimento de saberes tradicionais como fundamentais para o cuidado ambiental.

O conceito de decolonialidade propõe não apenas a denúncia da permanência da colonialidade nas sociedades contemporâneas, mas também a construção de alternativas plurais, que reconheçam diferentes formas de racionalidade e de existência. A crítica ao eurocentrismo questiona a noção de que apenas o modelo ocidental é legítimo para compreender o mundo. Assim, a decolonialidade não busca rejeitar completamente os conhecimentos europeus, mas sim descentralizá-los, permitindo o diálogo entre múltiplas epistemologias.

Qual alternativa está mais próxima dessa concepção de decolonialidade?

• Rejeitar completamente a ciência ocidental e adotar apenas os saberes ancestrais de cada comunidade.

• Reafirmar o Ocidente como fonte exclusiva de modernidade e conhecimento universal.

• Reconhecer que a filosofia e a ciência europeias são as únicas que podem fundamentar um pensamento crítico e universal.

• Construir um espaço de diálogo entre diferentes formas de conhecimento, sem hierarquizar o saber europeu como superior.

• Defender a substituição integral da racionalidade ocidental pela racionalidade indígena e africana em todos os campos do saber.

O contratualismo busca explicar a origem do Estado e da sociedade civil por meio de um pacto entre indivíduos. Para Thomas Hobbes, o estado de natureza é caracterizado pela guerra de todos contra todos, em que a vida humana seria "solitária, pobre, sórdida, brutal e curta". Para superar essa condição, os indivíduos renunciam à liberdade absoluta e transferem seu poder a um soberano que garante a paz. Já para Jean-Jacques Rousseau, o estado de natureza é marcado pela bondade e simplicidade do homem, corrompido apenas ao entrar em sociedade. O contrato social, para Rousseau, deveria assegurar não a submissão a um soberano, mas a liberdade coletiva através da vontade geral.

Com base nessas concepções, assinale a alternativa que expressa corretamente a diferença central entre Hobbes e Rousseau.

• Para Hobbes, o Estado surge para preservar a liberdade natural, enquanto Rousseau o vê como instrumento de repressão à vontade geral.

• Para Hobbes, a sociedade civil nasce da necessidade de um poder absoluto que assegure a paz; para Rousseau, nasce do pacto que garante a liberdade comum.

• Para Hobbes, a política só é possível a partir da igualdade natural; para Rousseau, é fruto da desigualdade estabelecida pela sociedade civil.

• Para Hobbes, a lei natural é suficiente para garantir a convivência pacífica; para Rousseau, é necessário submeter-se a um soberano absoluto.

• Para Hobbes, o contrato social deve manter os indivíduos no estado de natureza; para Rousseau, deve impor uma autoridade superior ao povo.