Leia o trecho para responder à questão:
O meu plano foi esperar o café, dissolver nele a droga e ingeri-la. Até lá, não tendo esquecido de todo a minha história
romana, lembrou-me que Catão, antes de se matar, leu e releu um livro de Platão. Não tinha Platão comigo; mas
um tomo truncado de Plutarco. (...)
O copeiro trouxe o café. Ergui-me, guardei o livro e fui para a mesa onde ficara a xícara. Já a casa estava em rumores;
era tempo de acabar comigo. A mão tremeu-me ao abrir o papel em que trazia a droga embrulhada. Ainda assim
tive ânimo de despejar a substância na xícara, e comecei a mexer o café, os olhos vagos, a memória em Desdêmona
inocente; o espetáculo da véspera vinha intrometer-se na realidade da manhã. Mas a fotografia de Escobar deu-me o
ânimo que me ia faltando; lá estava ele, com a mão nas costas da cadeira, a olhar ao longe...
— Acabemos com isto, pensei.
Quando ia beber, cogitei se não seria melhor esperar que Capitu e o filho saíssem para a missa; beberia depois; era
melhor. Assim disposto, entrei a passear pelo gabinete. Ouvi a voz de Ezequiel no corredor, vi-o entrar e correr a mim
bradando:
— Papai! Papai!
Leitor, houve aqui um gesto que eu não descrevo por havê-lo inteiramente esquecido, mas crê que foi belo e trágico.
Efetivamente a figura do pequeno fez-me recuar até dar de costas na estante. Ezequiel abraçou-me os joelhos, esticou-
-se na ponta dos pés, como querendo subir e dar-me o beijo do costume; e repetia, puxando-me:
— Papai! Papai!