Leia o texto para responder às questões 01 e 02.
Naquele dia e nos que se seguiram me ensinou uma porção de coisas assim, que eu ia aprendendo lentamente, para depois tentar praticar sozinho. [...]
Não adiantou grande coisa. Na escola eu continuava o último a ser escolhido e me deixavam entrar no time só para fazer número, quando não havia ninguém mais para completá-lo. Cheguei a passar pela humilhação de exigirem que eu jogasse o primeiro tempo num e o segundo tempo noutro, para compensar a desvantagem de me terem como jogador.
Não que este ou aquele já não tivesse percebido em mim algum progresso. Mas haviam decidido que eu era ruim de bola e não mudariam nunca de opinião. Além do mais, eu continuava sem conseguir acompanhar o tempo todo o desenrolar do jogo: qualquer coisa me distraia a atenção.
Houve um dia em que, final de partida, a bola veio rolando até meus pés. Eu estava praticamente sozinho diante do gol e em posição legal, o goleiro já batido, caído ao chão, era só chutar. Em vez disso, pensando que não estava valendo, que o juiz já tinha apitado ou qualquer coisa assim, peguei a bola com a mão, me voltei para os companheiros que, na maior gritaria, insistiam comigo que chutasse, e perguntei ingenuamente:
— Que foi que aconteceu?
Logo o goleiro adversário se aproximou, e me tomou a bola das mãos, dizendo em tom de zombaria:
— Com licença, artilheiro.
Perdemos o jogo por causa disso. Naquele dia voltei para casa chorando.
(Fernando Sabino. Minha glória de campeão. Disponível em: https://ima-rs.com.br/wp-content/uploads/2018/11/7o.-ano-O-Menino-no-Espelho-Fernando-Sabino.pdf. Fragmento)
1. O narrador desse texto