O MÁGICO
Chegara o grande momento. O mágico caminhou até a beira do palco. Sua assistente Marialva, de maiô prateado, abriu os braços e com gestos graciosos parecia oferecer o mágico a seu público. O mágico falou:
- Senhoras e senhores, para terminar minha apresentação desta noite, tentarei realizar um truque jamais tentado em toda a história da mágica. Um truque que revolucionará todas as leis da física. Pela primeira vez num palco, sem o uso de espelhos, alçapões, fundos falsos, projeções e hipnotismo, encanto ou milagre, uma mulher será transformada num pássaro. Sim, com um simples toque da minha varinha, transformarei minha gentil companheira numa pomba branca...”
Murmúrios da platéia. Marialva sorria. O mágico ergueu sua varinha e aproximou-se da assistente. Tocou seus cabelos salpicados de contas com a ponta da varinha. Nada aconteceu. Tentou outra vez. Nada. Ainda estava tentando quando o pano fechou sob vaias da platéia.
O mágico abandonou a mágica, foi ser carteiro. Não durou muito na nova profissão. Batia nas casas e dizia para o destinatário que abrisse as portas:
- Escolha uma carta, qualquer carta...
Trabalhou como maitrê num restaurante. Novo fracasso. Quando virava a garrafa, saia confete no copo. Quando tirava a tampa da travessa, em vez de filé, aparecia uma pomba viva que saia voando pelo salão. As pessoas não entendiam. Protestavam. Para acalmá-los o mágico tirava um ovo da boca. Escândalo no restaurante. O mágico foi despedido.
VERÍSSIMO, Luís Fernando
O conflito desse texto é gerado quando