Leia o texto.
Antes que elas cresçam
Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. [...]
Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem de repente.
Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?
Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, [...].
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou então com a suéter amarrada na cintura.
Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.
SANT’ANNA, Affonso Romano de. Disponível em: http://www.releituras. com/arsant_antes.asp>. Acesso em: 24 fev. 2011. Fragmento.
1 - No trecho “Cadê [...] festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos...” (5° parágrafo), o uso do diminutivo nas palavras destacadas sugere