Leia o texto abaixo e responda à questão.
O guarani
A cúpula da palmeira, em que se achavam Peri e Cecília, parecia uma ilha de
verdura banhando-se nas águas da corrente; as palmas que se abriam
formavam no centro um berço mimoso, onde os dois amigos, estreitando-se,
pediam ao céu para ambos uma só morte, pois uma só era a sua vida. [...]
— [...] Peri vencerá a água, como venceu a todos os teus inimigos. [...] Falou
com um tom solene:
“Foi longe, bem longe dos tempos de agora. As águas caíram, e começaram
a cobrir toda a terra. Os homens subiram ao alto dos montes; um só ficou na
várzea com sua esposa.
Era Tamandaré; forte entre os fortes; sabia mais que todos. [...]
Tamandaré tomou sua mulher nos braços e subiu com ela ao olho da
palmeira; aí esperou que a água viesse e passasse; a palmeira dava frutos
que os alimentavam.
A água veio, subiu e cresceu; o sol mergulhou e surgiu uma, duas e três
vezes. A terra desapareceu; a árvore desapareceu; a montanha desapareceu.
A água tocou o céu; e o Senhor mandou então que parasse. O sol
olhando só viu céu e água, e entre a água e o céu, a palmeira que boiava
levando Tamandaré e sua companheira. [...]
Quando veio o dia, Tamandaré viu que a palmeira estava plantada no meio
da várzea; e ouviu a avezinha do céu, o guanumbi, que batia as asas. [...]”
Cecília o ouvia sorrindo, e bebia uma a uma as suas palavras, como sefossem
as partículas do ar que respirava; parecia-lhe que a alma de seu amigo, [...]
desprendia do seu corpo, [...] e vinha embeber-se no seu coração, que se
abria para recebê-la.
A água subindo molhou as pontas das largas folhas da palmeira, e umagota,
resvalando pelo leque, foi embeber-se na alva cambraia das roupas deCecília.
[...]
Peri, alucinado, suspendeu-se aos cipós que se entrelaçavam pelos ramos
das árvores já cobertas de água, e com esforço desesperado, cingindoo tronco
da palmeira nos seus braços hirtos, abalou-o até as raízes. [...]
Ambos, árvore e homem, embalançaram-se no seio das águas: a haste
oscilou; as raízes desprenderam-se da terra já minada profundamente pela
torrente.
A cúpula da palmeira, embalançando-se graciosamente, resvalou pela flor da
água como um ninho de garças ou alguma ilha flutuante, formada pelas
vegetações aquáticas.
Peri estava de novo sentado junto de sua senhora quase inanimada e,
tomando-braços, disse-lhe com um acento de ventura suprema:
— Tu viverás!... [...]
A palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia...E sumiu-se no horizonte.
(ALENCAR, José de. O guarani. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.
gov.br/arquivos/File/2010/literatura/ obras_completas_literatura_brasileira
eportuguesa/JOSE_ALENCAR/GUARANI /P4_C11.HTML>. Acesso em: 5 jun. 2012. Fragmento.)
Há uma opinião expressa no trecho: